segunda-feira, 17 de abril de 2023

A chuva

Numa segunda, a gentileza da chuva
- que se apresenta com certa timidez
aos ares, sobre nossos encantos - 
rega nossos sonhos com sensatez.

E limpa, e lava, e renova
As flores destes vastos campos
Que se espalham antes da aurora
E florescem como lindos sonhos.

E a chuva caía 
Tocando o corpo e alma
Cada gota, sublime e calma
Penetra e lava a rua vazia.

E assim sendo
Um som único e belo
A chuva dança com o vento
Tornando o momento sublime e singelo.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Por que, afinal?

Por que, afinal, tudo no universo parte da mesma gênese?
Por que, afinal, as coisas são ditas entre parênteses?
Por que, afinal, nada realmente nos pertence?
Por que, afinal, tanto suspense?

Por que, afinal, todos aspiramos pela felicidade?
Por que, afinal, de você eu tenho saudade?
Porque, no final (eu nem sei como
ou o porquê), afinal, eu te amo.

Pôr fim

E de repente 
o amanhã
chegou.

Nesse presente
uma esperança vã
Foi o que restou.

A vida tinha sido 
Uma constante
"Eu adio".

E, sem tardio,
o instante
foi suprimido.

E aquilo
Que haveria
ser o depois
tornou-se o agora.

E agora?

Por ora,
se impôs 
arredia
e compelido.

E de repente
Num repente
Sem repense
Pense.

A vida
é
curta.

Embora para alguns seja um longa.

E de repente
o fim 
é esperado.

Pois quando se é demorado
o sim
já não se sente.

E esfria
Numa noite fria
a saudade.

Conforme a idade
se esvaía 
e se ia.

E o ponto
- Que deveria ser "em seguida" -
agora é final.

Outrossim, afinal,
o desaponto
veio em seguida. Por fim.
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Cecília Meireles