sábado, 28 de janeiro de 2023

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Intrínseco

De fato
Não entendo 
O conceito de amor. 

Se eu te amo
Não sei como
O porquê ou o querer. 

Sei, tal como uma flor,
Compreendo 
Pelo olfato. 

De tal forma,
Prazer eu sinto 
No perfume que dela exala. 

Não somente o cheiro,
Mas a emoção 
Que dela permeia.

A sensação 
Que dela 
Resulta. 

Conquanto jubila 
Dentro do meu peito
Tamanho aperto. 

De fato, não sei o efeito
Por mais que eu sinta
Se é amor ao certo. 

Livre

O pássaro voou
Para a tão sonhada liberdade 
Sem pestanejar,  rumou
A viver de verdade. 

No bater das asas
O vento lhe guia
A vida que tanto almejava
É a vida que via.

Voa livre, seja feliz
Eu espero você voltar
Ou talvez não, 

Te ver, passarinho,  livre a voar
Numa livre e intrigante solidão 
Foi talvez o que eu sempre quis.
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Cecília Meireles